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Agrotóxico? Desapega. Temos alternativas verdes para esse problema

Data: 29 de janeiro de 2021.

Autores: Thatiane Cotias Corrêa Pessoa, Victória Vaz de Jesus e Jesus, Yuri Henrique Freitas T. Martins, Ana Paula Bernardo dos Santos e Lívia Tenório Cerqueira Crespo.

Ilustrador: Marya Luísa Damasceno Oliveira.. 

Revisora: Lucineide Lima de Paulo.

          Cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos é perdido e desperdiçado por ano no mundo, e um dos fatores que influenciam tal perda é a ação de pragas. As plantas daninhas, por exemplo, são responsáveis por uma queda na produtividade que pode superar 80% das perdas no pré-colheita; já pragas como percevejos, cigarras, fungos e lagartas afetam, principalmente, no pós-colheita.

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Figura 1: Pragas comendo a plantação

Fonte: Site Tecnologia e Treinamento

     Os insetos e fungos conseguem se adaptar facilmente em ambientes secos, escuros e com baixa

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concentração de oxigênio, como ocorre durante o armazenamento de grãos. Além disso, um agravante para a ocorrência das pragas em grãos armazenados, é que elas conseguem se alimentar de mais de um grão. Um exemplo é a traça-dos-cereais, que sobrevive ao inverno, em temperaturas próximas ao congelamento, como larvas no interior dos grãos de arroz, milho, trigo, sorgo, entre outros. Já em relação aos insetos, destacam-se dois importantes grupos relacionados a danos no pós-colheita: os besouros e as traças. 

        Para combater e também prevenir a proliferação de pragas é comum a utilização dos agrotóxicos, que são produtos sintéticos utilizados no seu controle. Porém, ao passo que resolvemos esse problema, criamos também muitos impactos ambientais, especialmente pela necessidade de se usar uma quantidade cada vez maior desses defensivos agrícolas, devido à resistência que as pragas adquirem por seu uso contínuo e de maneira descontrolada. Dessa forma, tem-se a contaminação de água em reservatórios, rios, lagos e mares, a contaminação do solo, a queda na qualidade dos alimentos que chegam até o consumidor final e os efeitos provocados pelo manuseio direto desses produtos.

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Figura 2: Agrotóxicos

Fonte: Silva, 2018.

     Um estudo realizado pela University of Texas Southwestern Medical Center propõe que o pesticida hexaclorociclohexano (HCH) pode ter forte correlação com a doença de Parkinson, visto que a composição foi encontrada em 76% da pessoas com Parkinson, contra apenas 40% em pessoas consideradas saudáveis, e 30% em pessoas com Alzheimer. Outras consequências negativas de seu uso, divulgadas pelo Inca em 2019, são  intoxicações agudas e crônicas, má formação fetal em mulheres gestantes, neoplasia, distúrbios endócrinos, neurológicos, cardíacos, pulmonares e respiratórios, além de doenças subcrônicas, de tipo neurológico e psiquiátrico. 

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Figura 3: Agrotóxico à base de hexaclorociclohexano

Fonte: Blog El Desinsectador Y Desratizador

Tradução: inseticida orgânico sintético; à base de hexaclorociclohexano; Mata: Baratas, percevejos, pulgas, piolhos e outros insetos. 

          Se, por um lado, as pragas prejudicam a produção de alimentos,  mas por outro, os defensivos que evitariam pragas trazem muitos prejuízos à saúde da população, que solução se propõe para evitar o desperdício e a perda de alimentos?  Caso você tenha lido a nanocuriosidade “Como a nanotecnologia pode diminuir o uso de agrotóxicos?” (https://petnanoifrj.wixsite.com/petnanoifrj/agrotóxicos), descobriu como a nanotecnologia tem sido importante para ajudar a diminuir a utilização desses produtos. 

          Na matéria, citamos o uso das nanocápsulas para diminuir a quantidade de agrotóxicos aplicados nas plantações. Contudo, além disso, também têm sido desenvolvidos nanopesticidas a partir de nanoemulsões de óleos essenciais que podem substituir determinados agrotóxicos na prevenção ao ataque de algumas pragas. Nanoemulsões, como falamos na nanocuriosidade "Você sabia que a nanotecnologia pode aumentar a vida útil das frutas?" (https://petnanoifrj.wixsite.com/petnanoifrj/nanoemulsoes), são sistemas de partículas muito pequenas (chegam a ser um milhão de vezes menores que uma substância milimétrica), feitos a partir de dois líquidos imiscíveis incapazes de se misturar.

          Essa junção é trabalhada quimicamente, para se manter estável e evitar que os líquidos (água e óleo) se separem, da seguinte maneira: como água e óleo não são capazes de se misturar, pegamos um deles (no caso da nanoemulsão de óleos essenciais, pegamos o óleo) e o envolvemos com um tensoativo, o qual é uma substância capaz de estar tanto em contato com óleo quanto com a água. Por causa dessa característica, o óleo envolto de tensoativos pode ser disperso em meio aquoso, possibilitando a nanoemulsão.

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Figura 4: Representação da Nanoemulsão

Fonte: Autoria Própria  

          Outra definição importante é a de óleos essenciais, afinal são eles que estão sendo usados nas nanoemulsões junto à água. Os óleos essenciais são originados do metabolismo secundário das plantas e possuem composição química complexa, atuando como “armas de defesa”, pois são responsáveis pelos aromas e odores que espantam os predadores. Esses óleos possuem, em sua maioria, ações antifúngicas, antimicrobianas e antioxidantes e, como exemplo, podemos citar os óleos essenciais de limão e laranja.  Contudo, essas substâncias são voláteis, o que reduz o tempo de ação para afastar as pragas. Por isso, torna-se indispensável que os óleos essenciais estejam formulados nas nanoemulsões, uma vez que sua liberação é gradativa e funciona de acordo com sua necessidade de utilização, podendo se tornar uma alternativa aos agrotóxicos. 

          As vantagens da utilização dos nanopesticidas em relação aos agrotóxicos são a melhora na permeabilidade e dispersão do ingrediente ativo (visto que além de tornar gradativa a liberação dos óleos essenciais, a nanoemulsão também faz com que as plantas absorvam melhor o composto, já que ele está envolto em meio aquoso), um melhor direcionamento para espécies de pragas, a redução das doses de aplicação devido às menores perdas dos agroquímicos por degradação, lixiviação e/ou volatilização, e o aumento da segurança para ambiente e para o aplicador. Além disso, essas estratégias são particularmente importantes no que diz respeito àqueles ingredientes que degradam rapidamente o ambiente.

          Ademais, inseticidas botânicos à base de óleo essencial têm apresentado resultados significativos quanto ao controle de pragas e, por esse motivo, sua utilização  tem aumentado. Podemos citar algumas espécies  que são  muito utilizadas como Rosmarinus officialis (alecrim), Mentha spp (hortelã) e Lavandula spp (lavanda). Estudos mostraram que o óleo essencial de alecrim se mostrou efetivo contra diversas pragas agrícolas como Lepdoptera, que é a ordem dos insetos que inclui borboletas e mariposas (Trichoplusia ni, Ectropis obliqua; Pseudaletia unipuncta), Diptera, a qual é a ordem dos insetos que inclui as varejeiras (Campytomyia corticalis) e Coleoptera, a qual é a ordem dos insetos que inclui joaninhas e besouros (Tribolium confusum, Sitophilus oryzae, Oryzaephilus surinamensis).

          Pesquisadores da Universidade Federal do Amapá, em conjunto com outras instituições, também evidenciaram que as nanoemulsões de óleos essenciais de Baccharis Reticularia e do D-limoneno, se mostraram agentes promissores para o combate de pragas. Sua atividade larvicida indica grandes perspectivas acerca do desenvolvimento de nanoemulsões que ampliariam a prevenção de pragas na agricultura.

          Cada vez mais, estudos têm sido feitos para comprovar os efeitos que os nanopesticidas à base de óleos essenciais possuem sobre insetos considerados prejudiciais para a agricultura, de modo que os resultados têm se mostrado satisfatórios quanto a sua eficácia. Contudo, ainda é necessário que sejam realizadas mais pesquisas sobre os efeitos que esses nanopesticidas podem causar ao meio ambiente, à biodiversidade e à saúde humana.

Fontes:

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