Você já pensou em reconhecer alguém pela palma da mão?
Data: 21 de maio de 2021.
Autores: Leonardo Ricardo Pereira Filho, Mariana Cardozo Gomes Milhomem, Ana Paula Bernardo dos Santos e Lívia Tenório Cerqueira Crespo.
Ilustradora: Marya Luísa Damasceno.
Revisora: Lucineide Lima de Paulo.
A prática forense é parte da ciência que data do século VII (601 d.C. - 700 d.C.) na China, onde Ti Yen Chieh ficou famoso por utilizar a lógica e as provas forenses para resolver crimes. Só bem mais tarde, no século XII (1101 - 1200), também na China, é que foi escrito um livro ensinando como reconhecer sinais de afogamento e estrangulamento, e como as feridas poderiam revelar o tipo e o tamanho da arma utilizada. Com o passar do tempo, novos métodos foram criados e a prática forense emergiu com a evolução desses métodos.
Com a evolução da tecnologia, tornou-se possível analisar novas evidências criminais, que costumavam ser descartadas no local do crime, como as impressões digitais
Figura 1: impressão digital desenhada em quadro
Fonte: https://segredosdomundo.r7.com/impressao-digital/
As impressões digitais, também chamadas papilas dérmicas, são marcas únicas encontradas na ponta dos dedos, palma das mãos e sola dos pés, capazes de distinguir os quase oito bilhões de habitantes presentes em nosso planeta. Essas marcas são diferentes até em irmãos gêmeos univitelinos – irmãos com o mesmo DNA –, por causa da formação das camadas de pele do bebê quando ainda no ventre materno, que sofre, também, influência de forças externas como a movimentação no útero. Por métodos de comparação da impressão digital com impressões previamente arquivadas em um banco de dados, hoje, essa espécie de identidade digital é capaz desbloquear um celular, validar um documento ou até ser usada como segurança no banco, entre outras coisas.
Em 1891, Juan Vucetich desenvolveu e pôs em prática um novo método para diferenciar os prisioneiros usando impressões digitais latentes, que são as impressões digitais encontradas em superfícies lisas ou polidas, sendo essa a primeira vez que a datiloscopia foi aplicada pela lei.
Você já deve ter visto essa técnica sendo empregada em vestígios morfológicos em uma cena de crime: tais características particulares permitem a identificação do autor do delito. Essa operação, denominada datiloscopia, visa a identificação humana a partir de suas digitais: Caso a equipe julgue que aquilo é uma pista e pode colaborar para desvendar as identidades dos responsáveis pelo ato, o vestígio deixa de ser considerado assim e passa a denominar-se evidência. Juridicamente, uma evidência é qualquer material ou objeto que esteja relacionado com a ocorrência do delito.
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Figura 2 : operação de datiloscopia
Fontes:https://blog.ipog.edu.br/gestao-e-negocios/papiloscopia-trabalho-nessa-area/
http://www.incursos.net/noticias/21022019/voce-conhece-a-tecnica-da-papiloscopia/
Existem dois tipos de digitais: as visíveis e as ocultas. As visíveis são aquelas que foram deixadas por alguém que estava com a mão suja, pode ser de tinta ou sangue por exemplo. Já as ocultas são aquelas produzidas por vestígios de suor e os compostos presentes nele.
Figura 3: visão aumentada de uma impressão digital
Fontes:https://hypescience.com/nenhum-bandido-escapa-nanotecnologia-obtem-impressoes-digitais-impossiveis/
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-importancia-levantamento-impressao-digital-local-crime.htm
Diversos métodos podem ser empregados para a obtenção de digitais em uma cena de crime; porém, para certos casos, os métodos habituais se tornam ineficientes. Somam-se a isso equívocos no emprego do método que pode não apenas levar a um desfecho equivocado, como também destruir aquela evidência. Por essa razão, a nanotecnologia se fez necessária: com ela, foram criados novos métodos, tornando essa ciência uma aliada muito eficaz para o desenvolvimento dos novos e antigos casos.
Em um desses novos métodos, foi possível aprimorar a leitura e a qualidade dessas impressões, através do uso de nanopartículas superparamagnéticas, partículas que apresentam magnetização apenas na presença de um campo magnético externo, que são inseridas sobre folhas de papel sulfite, aplicadas com um pincel magnético comercial. O nanomaterial pode diminuir a quantidade de pó empregado e com isso melhorar a resolução das linhas características da impressão revelada na cena do crime, chamada impressão dígito-papilar latente.
Nesse método, é usado um nanopó, as nanopartículas de magnetita, e ele apresentou resultados ótimos quando comparado ao pó comercial usado para revelar impressões digitais latentes. Em campo poderia ser usado para extrair evidências de superfícies metálicas (por exemplo, a lataria de um veículo).
Figura 4: Amostra de impressão digito-papilar. À esquerda revelada com pó comercial e à direita com nanopó.
Fonte:https://www.researchgate.net/publication/341300406_Uso_de_Nanoparticulas_Superparamagneticas_na_Revelacao_de_mpressoes_Digito-Papilares_Latentes
Outro exemplo de presença da nanociência forense é a utilização da espectrometria de massa, que permite identificar traços de cocaína em impressões digitais mesmo depois do indivíduo ter lavado as mãos. Esse teste foi usado comercialmente pela empresa Intelligent Fingerprinting, que foi melhorado para detecção de entorpecentes. Além de detectar a substância, os especialistas ainda conseguem dizer quem ingeriu e quem apenas manuseou a droga. A benzoilecgonina é a molécula formada pelo organismo após a droga ser ingerida, sendo essencial na distinção daqueles que ingeriram a droga daqueles que apenas a manipularam. Cientistas afirmam que, além das drogas ilícitas, o produto em breve poderá detectar produtos farmacêuticos nas impressões digitais. Esse método seria útil em clínicas de reabilitação, por exemplo.
Figura 5: metabólito da cocaína
Fontes:https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Cocaine-2D-skeletal.svg
https://en.wikipedia.org/wiki/File:Benzoylecgonine-2D-skeletal.png
Novos métodos também vêm sendo estudados com o uso da nanotecnologia para detectar impressões digitais secas e desbotadas e até em superfícies porosas.
Também existe uma nova técnica sendo desenvolvida que usa micro-fluorescência de raios X, possibilitando a detecção de substâncias inorgânicas (cloro, sódio e potássio) presente nos sais minerais nas imagens de impressões digitais.
A escala nanométrica é uma unidade de medida que sempre permeou o universo microscópico; o fato é que agora, com o conhecimento progressivo da humanidade e com sua tecnologia evolutiva, conseguimos ler e manipular essa escala de forma como não conseguimos antes – e estamos progredindo cada vez mais. Com esse progresso, alcançamos diversas áreas de aplicações, como a Ciência Forense, e estamos sempre renovando métodos. Hoje, somos capazes de enxergar coisas antes invisíveis a olho nu, resolver casos que há meio século atrás seriam considerados insolucionáveis. Você já imaginou o próximo passo, o que ainda podemos fazer?
Fontes:
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MIRANDA, J. B. A importância do levantamento de impressão digital em local de crime. Brazilian Journal of Forensic Science Medical Law and Bioethics. Disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-importancia-levantamento-impressao-digital-local-crime.htm# Acesso em: 12 maio 2021
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