Como a nanotecnologia está presente nesta época de festas?
Data: 23 de dezembro de 2020.
Autores: Davi de Pontes Sousa, Dayenne Braz Corrêa da Silva, Ana Paula Bernardo dos Santos e Lívia Tenório Cerqueira Crespo.
Ilustradoras: Marya Luísa Damasceno Oliveira.
Revisora: Lucineide Lima de Paulo.
A nanotecnologia participa do nosso dia a dia muito mais do que a gente imagina e, ao se tratar de bebidas, não poderia ser diferente. É bastante comum em datas festivas tomar uma taça de um bom vinho, mas já se perguntaram se há algum tipo de nanotecnologia presente na fabricação deste produto?
Uma das aplicações dessa tecnologia em vinhos está na utilização de nanopartículas de ouro juntamente com supermoléculas de porfirina, molécula que dentro do corpo humano, por exemplo, está presente na hemoglobina e é responsável pelo transporte e o armazenamento de oxigênio nos tecidos vivos. Em conjunto, essas substâncias atuam como um filme nanoestruturado capaz de detectar os níveis de sulfito na bebida.
Caso não você não saiba, o sulfito é bastante utilizado como conservante de de vinhos e frutas secas, mas sua alta concentração pode causar problemas de saúde como náuseas, irritação gástrica, urticárias, broncoespasmos em asmáticos e até dores de cabeça. Em excesso, o sulfito pode conferir aroma e sabores desagradáveis ao vinho. Por conta disso,
faz-se necessário o monitoramento de seus níveis durante a etapa de produção. A vantagem da utilização desse filme nanoestruturado está no baixo custo, menor tempo de resposta e na pouca quantidade de amostra necessária para realizar a medição, quando se compara com outras técnicas utilizadas.
Figura 1: Esquema do filme nanoestruturado a partir de uma supermolécula de porfirina e nanopartículas de ouro(AuNP), tendo 4-mercaptopiridina (4-mpy) como ligante ponte.
Fonte: Dissertação USP
Em sua forma natural, todos os vinhos possuem substâncias específicas que contribuem para o sabor e o aroma característico; entretanto, quando algumas dessas substâncias estão em excesso, podem produzir um aroma desequilibrado. O grupo de substâncias denominadas alquil-2-metoxipirazina proporciona ao vinho um aroma vegetal, semelhante ao do pimentão verde, que pode incomodar por conta da intensidade aromática.
Figura 2: Ilustração de uma taça de vinho com vegetais que produzem um aroma intenso ao vinho.
Fonte: Site Enogastro
Ao longo dos anos, alguns produtores de vinhos tentaram corrigir esse problema com o aroma e o sabor usando aditivos como carvão ativado e cavacos de carvalho; porém, não obtiveram bons resultados. Recentemente, em 2018, pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, têm utilizado nanopartículas magnéticas para remover os alquil-2-metoxipirazina dos vinhos. Trata-se de um mecanismo baseado na atração magnética dessas moléculas indesejadas pelas nanopartículas, a base de óxido de ferro. Em estudo realizado com o vinho Cabernet Sauvignon, conseguiu-se remover 40% das substâncias que geram aromas desagradáveis com essas nanopartículas, sem alterar os demais aromas do produto. De acordo com os pesquisadores, essa técnica pode ser aplicada em outros tipos de vinho também.
Na nossa nanocuriosidade número 10, foi citado um sistema tradicionalmente utilizado para analisar produtos alimentícios, chamado língua eletrônica. A EMBRAPA desenvolveu uma dessas Línguas Eletrônicas: nelas, há camadas de macromoléculas produzidas com uma grande superfície de contato e controle nanométrico que permitem uma sensibilidade muito maior que a nossa língua. E por isso, essa língua eletrônica torna-se capaz de detectar sabores e texturas. O sensor presente nelas usa proteínas salivares e é capaz de mensurar a sensação oferecida pelo vinho e, assim, se torna útil como ferramenta no controle da qualidade da bebida – além de ajudar os produtores a dar destaque aos sabores que desejam em seus produtos.
Figura 3: Língua Eletrônica para análise de bebidas produzida pela EMBRAPA
Fonte: Site EMBRAPA
Não pense que para por aí! É possível utilizar a nanotecnologia para tornar um vinho ainda mais agradável ao paladar mesmo após ser engarrafado e vendido. Trata-se dos plugs e dosadores com nano-aeradores, capazes de diminuir a quantidade de oxigênio que entra em contato com o vinho após aberto, preservando suas características.
Figura 3: Aplicação do plug nano-aerador de vinhos.
Fonte: Mode Operatoire Optwite
Além de saborosa, essa bebida traz vários benefícios para nossa saúde, como proteção cardiovascular e ação antioxidante. Entretanto, como toda bebida alcoólica, seu consumo em excesso pode levar a doenças como cirrose, desordens mentais e comportamentais, problemas cardíacos, cânceres, entre outros. Assim, seus benefícios só são conseguidos quando se faz ingestão desta bebida com moderação. Uma taça já é mais do que suficiente, dizem os especialistas.
Essa será a última Nanocuriosidade deste ano, mas esperamos vocês com mais novidades dessa área em 2021. O grupo PETNANO deseja a todos um ótimo Natal e um Feliz Ano Novo!
Referências:
COLA, Luiz. Optiwine, o gadget que usa “nanotecnologia” para melhorar a degustação de vinhos! Gazeta Online. Vitória, ES: 10 nov. 2015. Disponível em: https://blogs.gazetaonline.com.br/vinhosemaisvinhos/2015/11/optiwine-o-gadget-que-usa-nanotecnologia-para-melhorar-a-degustacao-de-vinhos.html. Acesso em: 12 dez. 2020.
ENOGASTRO. O Efeito do Magnetismo na Qualidade dos Vinhos. [S. l.]: Alessandra Gomes Rodrigues, 10 jul. 2018. Disponível em: https://enogastro.wordpress.com/2018/07/10/o-efeito-do-magnetismo-na-qualidade-dos-vinhos/. Acesso em: 10 dez. 2020.
NANOTECNOLOGIA. Site Embrapa. Seção Espaço Temático. [entre 2005 e 2020] Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-nanotecnologia/nota-tecnica. Acesso em: 10 dez. 2020.
PESQUISADORES querem tirar defeitos do vinho usando nanotecnologia. Revista Adega. Seção Mundovino. 24 out. 2019. Disponível em: https://revistaadega.uol.com.br/artigo/pesquisadores-querem-retirar-defeitos-da-bebida-usandonanotecnologia_12030.html. Acesso em: 10.dez.2020.
RODRIGUES, Alessandra Gomes. O Efeito do Magnetismo na Qualidade dos Vinhos. Blog Enograstrô. Rio de Janeiro: 10 jul. 2018. Disponível em: https://enogastro.wordpress.com/2018/07/10/o-efeito-do-magnetismo-na-qualidade-dos-vinhos/. Acesso em: 10 dez. 2020.
YATSUZUKA, Rebeca Evahides. Nanomateriais híbridos de porfirinas supramoleculares e nanopartículas de ouro e suas aplicações em dispositivos amperométricos. 2007. Dissertação (Mestrado em Química Inorgânica) - Instituto de Química, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. doi:10.11606/D.46.2007.tde-30112007-104916. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/46/46134/tde-30112007-104916/publico/DissertacaoRebecaEYatsuzuka.pdf. Acesso em: 21 dez. 2020.
ZAGONEL, Jéssica Talita; OGLIARI, Nathália Francine; GEMELLI, Andrei Agostinho. Uma breve revisão sobre os benefícios e malefícios da ingestão de vinho. Evidência, v. 18, n. 2, p. 117-130, 2018. http://dx.doi.org/10.18593/eba.v18i2.16982. Disponível em: https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/evidencia/article/view/16982/pdf. Acesso em: 22 dez. 2020.